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28 janeiro 2013

Incêndio em Santa Maria - Do sarcasmo à realidade e indignação.


Como quase tudo que faço, ontem acompanhei a cobertura do incêndio na boate Kiss em Santa Maria com sarcasmo, olhar de espanto, mas sem deixar de lado o humor-negro. Desculpa, sou assim, sou sagitariano e tenho isso comigo.

Para vocês não acharem que sou um monstro, vou contar um breve relato:




Faz alguns anos, uma amiga de São Paulo teve um bebê que infelizmente passou por sérios problemas de saúde e faleceu. Essa moça era muito próxima da minha excelentíssima ex-esposa. Antes do falecimento da criança, nos mobilizamos de todas as formas para ajudar e confortar mãe e filho. No dia do enterro, família reunida, amigos e junto uma não menos importante amiga e colega, a Ariene. Pois bem, eu e Ariene tínhamos uma sintonia que nos fez ficar rindo, gargalhadas durante todo o velório e enterro. Risadas de urinas nas calças.” Tenho uma coisa comigo que é de não levar sofrimento e dor para um ambiente que já esta cheio destes sentimentos. “Na volta pra casa me coloquei a chorar por todo o trajeto. Depois disso precisei ficar sozinho. Não acreditava no que havia acontecido. Era como se tivesse absorvido toda energia ruim daquele lugar e descarregado toda dor que não demonstrei.”. Já devo ter contado isso antes aqui no blog.

Destas fatalidades a que lembro e que me fez chorar como criança foi com o acidente da TAM em Congonhas.

Deu pra ver que não sou tão insensível assim. Não sou nenhum monstro.

Voltando as atenções para Santa Maria, hoje pela manhã é que fui ver nos portais as fotos, os depoimentos, os perfis de jovens com menos de 25 anos que tinham uma vida inteira de sonhos e realizações pela frente. Crianças que só buscavam um pouco de diversão.

Ouvi relatos da angústia das pessoas ouvindo os celulares chamando nos corpos não identificados. Li o depoimento de uma menina que comemorava com o namorado o novo emprego juntos em uma pizzaria de SM, mas que só ela conseguiu sair, porque não estavam de mãos dadas como sempre andavam. Vi um namorado que perdera a companheira e não sabia como iria contar para a filhinha de apenas 4 anos cair em desespero. Aquilo me tomou os olhos de lágrimas, um aperto no peito, um sentimento que não sei explicar, me senti fraco. Precisei sair da sala.

Faz tempo que não assisto ao dominical Fantástico, simplesmente porque florearam demais as coisas. Mas do quarto conseguia ouvir minha mãe falando com a televisão. Sim ela fala com a TV, com a louça, as paredes e até mesmo com as URA’s, aquelas de qualquer central de atendimento. Ao sair ouvi que um dos integrantes da banca que provocou o incêndio também havia morrido. Ela como a maioria das pessoas no mundo, pessoas essas que mesmo distantes sentiam a dor das famílias envolvidas, disse: “bem feito”. Mas não pararam pra pensar que ele também era filho de alguém e que sua família também chorava uma perda. Minha mãe como a maioria das pessoas não entenderia se eu dissesse isso.  

Não é justo culpar este elemento, se foi ele ou não que começou o fogo, parece que não, nem culpar a banda como um todo, não é justo culpar a casa que estava com alvará vencido e não havia plano de evacuação aprovado pelos bombeiros (tantas outras por aí são assim), não é justo culpar só os donos da casa ou tão pouco só as autoridades, nada é justo o suficiente quando se perde alguém. Sempre vai faltar alguma coisa. Alguém.


Sarcástico que sou agora vem meu lado podre. Não. Não se preocupem, pois não vou zombar de quem merece apoio e conforto, mas vai acabar sobrando pra alguém, espero que entendam.

Ontem à noite era impressionante a mobilização de centenas ou milhares de pessoas nas redes sociais. É bom saber que ainda existe gente que se preocupa com o próximo, que ajuda pelo simples fato de existir alguém precisando ser ajudado, mas tem os que preferem tripudiar e esses deixamos de lado. Assisti hoje em alguns telejornais pessoas que nada tinham com quem estava na casa noturna, mas que se comoviam ao relatar sua ajuda. Eu faria o mesmo se lá estivesse.

Agora uma coisa que não entendo é o comparecimento de autoridades como a presidente Dilma e o governador Tarso, além de outras que lá estiveram e depois aparecer nos veículos de comunicação que os voluntários precisam de materiais básicos como luvas, papel higiênico e ÁGUA. Sangue é obvio que vai ser preciso e todo o país já esta se mobilizando. Hospitais do centro do país como o Albert Eistein deslocar equipes para apoio é louvável. Voluntários de várias localidades, empresas de transporte colocando seus carros à disposição para o transporte, mas e os políticos? Aposto que ninguém abriu a mão para comprar uma garrafa d’agua... ninguém usou seu rico dinheirinho para auxiliar na compra de uma caixa de luvas que não custa mais que R$ 45,00, de papel higiênico que falei faz pouco.

Que mobilização é essa de vocês senhores políticos?

Espero que as famílias tenham força para ver a justiça ser feita e que consigam continuar suas vidas, para que fique sempre viva a melhor lembrança possível de quem partiu e isso possa confortar os corações partidos.



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